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Feb 22, 2014

...como ajudar uma amiga

(nota de esqueciaana: já antes tinha publicado este post, uma leitora do blogue pediu-me para o divulgar outra vez)
Sei por experiência própria como 'os outros' podem ser muito importantes no tratamento e recuperação. Não quaisquer 'outros' mas sim quem, mesmo que não entenda completamente nem sequer parcialmente a doença, nos faz ter novos olhares para a vida. Quem construa as pontes entre o nosso mundo interior de sofrimento e a vida lá fora onde podemos descobrir a alegria.

Os sites informativos e de apoio a familiares e amigos sobre a anorexia e bulímia (ver links do lado direito) por vezes fornecem indicações específicas para grupos dos que são próximos do doente, tais como a familia e em particular os pais, os professores e ...AS AMIGAS (cito adaptando: "Caso suspeite ou tenha a certeza de que uma amiga sua tem problemas relacionados coma a alimentação..."). Pergunto eu: e OS AMIGOS? e O NAMORADO? Os rapazes e homens são não apenas uma minoria dos doentes anorécticos e bulímicos (pelo menos no que é estatisticamente conhecido), ELES também parecem estar um tanto à margem na informação sobre os OUTROS que podem ajudar.
 
No entanto, encontramos em vários testemunhos a importância do NAMORADO, do NOIVO, do MARIDO na procura de cura e recuperação da doença de TA. Sendo a partilha mútua nas relações amorosas mais intensa que noutras, não é de admirar que nelas seja possivel ultrapassar dificuldades em expressar sentimentos por parte de quem está doente, e que por isso sejam os namorados quem, ainda antes de pais, irmãos, amigas ou amigos se apercebem que alguma coisa não está bem. Não encontrei ainda no entanto nenhum texto que 'explique' e dê o devido destque a importância dos NAMORADOS (os príncipes! alguns que precisam ter uma coragem extrema!) .
 
Voltando às AMIGAS (supondo que quem sofre de AN é uma rapariga) existem algumas recomendações que abaixo alinho comentando. E o meu primeiro comentário é que não existindo receitas para a amizade, o que a seguir se escreve são apenas algumas indicações que em média se ajustam a cada caso concreto.
 
COMO PODES AJUDAR A TUA AMIGA?
 
(texto adaptado do original aqui e aqui)
 
+ A tua amiga é inteligente, informada, determinada...mas é característica da doença negá-la e recusar opiniões dos outros (mesmo das amigas) sobre o seu problema (que geralmente não identifica como tal). São raros os casos em que a doente resolve tratar-se por iniciativa própria. Como amiga dela procura em conjunto com outros que lhe são próximos que ela tome consciência do problema e comece a tratar-se com especialistas adequados. Não fiques frustrada com a tua (muitas vezes aparente) impotência para alterar a situação. Ela também se sente possivelmente muitas vezes impotente para se mudar. Não fiques zangada se muitas vezes ela 'te deixar a falar sozinha'.
 
+ A tua amiga pode estar está em risco de vida.A anorexia alimentar e os transtornos alimentares (TA) são doenças graves. Procura que contacte uma equipa especializada. Ajuda-a a dar o primeiro passo para o tratamento. Procura informar-te mais sobre a doença e encontrar os serviços de apoio a familiares e amigos e os serviços médicos públicos ou privados a que ela poderá recorrer na tua região. Mas atenção, por muito que julgues saber sobre a doença, lembra-te que apenas os profissionais poderão fazer um correcto diagnóstico e traçar caminhos para o tratamento e cura.
 
+ Evita centrar todas as conversas com ela na comida ou na aparência física. Comentários mais ou menos irónicos como 'qualquer dias desapareces', 'és só pele e osso', 'andas com dietas malucas' ou até elogiosos ' estás com um corpo fantástico! quem me dera vestir o 36 como tu'. Ou mesmo de incentivo a ganhar peso ' estás mais gordinha e fica-te bem' (pessoalmente tenho a impressão que se este último comentário vier de um amigo não será muito negativo, mas estamos a falar de amigas).Não te esqueças que a tua amiga tem parte da vida focada na aparência física (tentando dizer com o corpo o que ninguém é capaz de escutar) e nas calorias por isso, não lances mais fogo para essa fogueira. Fala com ela sobre arte, música, estudos, trabalho, viagens, projectos futuros.
 
+ Faz a tua amiga sentir (não por palavras de preferência) que ela tens excelentes qualidades e que ninguém é perfeito. Mostra-lhe a tua amizade por actos. Lembra-lhe que todos cometemos erros. E que a errar se aprende. Abre-lhe também o teu coração. É dos livros que quem sofre de TA mente sobre o comportamento e por vezes mente também compulsivamente (é uma componente da doença e como tal deve ser compreendida). Mas a identificação por ti de uma inverdade pode ser positivo. E mostrar que de quem gostamos esperamos sinceridade, não falsidade.
 
+ Procura que ela saia. Há muitas formas de sair. Sair da casca por exemplo ;) Conviver com outras pessoas diferentes. Pessoas com projectos, ideias, imaginação. Pessoas abertas a outras pessoas. Por vezes com a mesma idade as pessoas apresentam maturidades muito diferentes. E não raro quem sofre de TA tem níveis de maturidade e culturais acima da média. Muito possivelmente a tua amiga questiona-se e questiona os outros e o sentido da vida. Por isso ambientes em que dominem pessoas fúteis e vazias podem ser agressivos para ela. Mas cada um de nós é uma caixinha de surpresas. As possibilidades de convívio hoje em dia são imensas. procura que ela retome a alegria e sociabilidade que tinha antes da doença, mas sem pressas, sem forçar. A doença por vezes vai-se instalando de-va-ga-ri-nho e não é do dia para a noite que desaparece.
 
+ O que ela deve ou não comer deve ser recomendado pelos especialistas em nutrição e/ou endocrinologista. Se estiveres com ela durante as refeições principais, festas ou outras situações que envolvam comida procura comportar-te normalmente. Não adoptes uma posição de vigilância ou controlo sobre o que ela come ou de recomendações do tipo 'lá estás com a mania das calorias, não sejas parva vá lá come a bolacha', etc.
 
+ NÃO DESISTAS. O teu apoio pode não dar de imediato resultado. Tens que ter paciência se a tua amiga depois de parecer estar a recuparar tiver uma recaída. Não desistas da tua amiga, mantém o teu apoio mesmo durante uma recaída, evita comentários do tipo 'és uma fraca desisto'.´A tua amiga se tiver uma recaída já se sente suficientemente mal sem esses comentários 'amigos (por vezes pretendem ser para mostrar a dura realidade').Se ela for internada e os médicos não virem inconveniente e perceberes (as amigas verdadeiras percebem os sins mesmo quando ouvem não e vice versa) que ela o quer visita-a.
 
+ Se o conhecimento que com ela tiveres for principalmente ou exclusivamente virtual procura que ela reforce os laços com o MUNDO REAL. Os ombros virtuais não passam disso...virtuais. Nada substituí os ombros REAIS. para além disso estando a tua amiga psicologicamente fragilizada pode ser alvo de comportamento predatórios no mundo real e na internet.
 
+ Na Internet circula muita informação errada, nuns casos inconscientemente noutros, mais graves, conscientemente e criminosamente errada. Medicamentos, práticas e dietas que pululam na internet nos sites pro-ana e pro-mia e também noutros sites orientados comercialmente são muito perigosos. Dicas de emagrecimento que são fornecidas, por vezes sob capa de fundamentos científicos são autênticas 'receitas de morte'.
 
+ Lembra-te SEMPRE: A TUA AMIGA NÃO TEM CULPA. DEIXAR DE COMER NÃO É A DOENÇA, É O SINTOMA.
Procura ajuda para a tua amiga. Alguns contactos AQUI.
Foto f
Comentários recebidos a mensagem identica antes publicada no esqueciaana:

foreveryoung disse...
Qerida "esqeci-a-ana"...
Antes de mais qero voltar a agradecer pela maneira como te tens exprimido comigo porqe nota-se mesmo qe já passaste por isto tudo e és perfeitamente consciente a falar sem nunca "exigires" de mim coisas exageradas como às vezes me acontece por parte de pessoas qe desconhecem o problema em si! Quanto ao qe escreveste tens toda a razão..a fluoxetina tira-me o apetite e altera o meu humor (às vezes..ultimamente mais!)..mas a verdade é qe fico mesmo sem fome nenhuma e se o esforço por comer é grande já quando temos fome (contraditório?) então quando não temos aínda mais complicado é. Suponho qe me estejas a perceber. Mas ao mesmo tempo não qero de maneira nenhuma dizer isto ao psiquiatra porqe vou ser sincera..tenho medo qe ele me recomende tomar algo para abrir o apetite. Isso aterroriza me! Beijinho enorme, parabéns pelo post, até o patrocinei no meu blog :) ehehe
ex ana disse...
Eu já passei não direi por tudo, mas por algumas coisas parecidas.
Se o teu fim de semana foi inesquecível o que achas de ter a seguir uma semana igualmente BOA e inesquecível?
p.s.- Agradeço muito o 'patrocínio'. Não queres juntar sugestões? Prometo fazer uma actualização do post e prestar devida atribuição (ou não) como preferires. 30 de Novembro de 2009 20:41
aqui

Fotografia de flick cc aqui

2 comments:

said...

Minha querida, é sempre bom voltar aqui… agora com uma presença diferente na vida. Agora existo. Agora sou eu!… Como tu sabes e acompanhaste, vivi muitos anos agarrada à doença mas também fui amiga de uma rapariga a quem detectei anorexia (já nessa altura eu mentia sobre mim).. Todas estas dicas são muito úteis para quem pouco sabe mas é preciso percebermos quem temos à frente e fazer uma triagem das características patológicas que ela apresenta e uma triagem nas nossas palavras para lhe chegar… quantas vezes eu deixei de falar com amigos por terem sido muito invasivos ou por me sentir atacada em vez de ajudada… é preciso assertividade mas deixar de lado os chavões… é preciso ser firme e dizer que estamos ali para ajudar a pessoa, não a doença. Enquanto amigo é preciso não se iludir que vai salvar a doente… aconteceu-me ao longo de 10 anos de fase aguda, algumas pessoas aproximarem-se e quererem salvar-me… isso acabou com a possibilidade de continuarmos uma grande amizade… porque havendo a ilusão que aqui alguém salva alguém, acaba-se na desilusão de isso não acontecer… a maioria dessas pessoas acabou a cobrar-me uma força que eu não tinha sempre com frases do género "eu só acredito quando vir" "tu não queres sair disto" ou ainda "tu vais morrer"… isto claro, acompando a grande mágoa e frustração por me verem voltar a cair depois de tentativas de sair do fundo… Estas coisas pesaram-me em vez de ajudar… fizeram-me sentir que toda a gente que se aproximava iria sair triste e desiludida de ao pé de mim… a depressão em que estava generalizava os casos: de algumas pessoas, passei a julgar que qualquer pessoa no mundo que se aproximasse de mim, sairia magoado. Fosse por este ou por outro motivo qualquer… E demorou até conseguir aproximar-me de outra pessoa… sempre com muitas reservas e com muitas máscaras… E quando finalmente dei a volta tive de o fazer praticamente sozinha. Eu e a minha psicologa que me ia ouvindo… aluguei uma casa, trabalhei todos os dias para pagar as contas. Foi esse compromisso que me prendeu à vida e me libertou da doença… =) Mas a solidão a que me obriguei foi só o meu método… aconselho sempre a que o façam rodeados, a partilhar jantares e pasteis de nata! A vida faz sentido partilhada… e é à procura dessa partilha que devemos esforçar-nos para sair da doença.

grande beijinho minha querida!

said...

Minha querida, é sempre bom voltar aqui… agora com uma presença diferente na vida. Agora existo. Agora sou eu!… Como tu sabes e acompanhaste, vivi muitos anos agarrada à doença mas também fui amiga de uma rapariga a quem detectei anorexia (já nessa altura eu mentia sobre mim).. Todas estas dicas são muito úteis para quem pouco sabe mas é preciso percebermos quem temos à frente e fazer uma triagem das características patológicas que ela apresenta e uma triagem nas nossas palavras para lhe chegar… quantas vezes eu deixei de falar com amigos por terem sido muito invasivos ou por me sentir atacada em vez de ajudada… é preciso assertividade mas deixar de lado os chavões… é preciso ser firme e dizer que estamos ali para ajudar a pessoa, não a doença. Enquanto amigo é preciso não se iludir que vai salvar a doente… aconteceu-me ao longo de 10 anos de fase aguda, algumas pessoas aproximarem-se e quererem salvar-me… isso acabou com a possibilidade de continuarmos uma grande amizade… porque havendo a ilusão que aqui alguém salva alguém, acaba-se na desilusão de isso não acontecer… a maioria dessas pessoas acabou a cobrar-me uma força que eu não tinha sempre com frases do género "eu só acredito quando vir" "tu não queres sair disto" ou ainda "tu vais morrer"… isto claro, acompando a grande mágoa e frustração por me verem voltar a cair depois de tentativas de sair do fundo… Estas coisas pesaram-me em vez de ajudar… fizeram-me sentir que toda a gente que se aproximava iria sair triste e desiludida de ao pé de mim… a depressão em que estava generalizava os casos: de algumas pessoas, passei a julgar que qualquer pessoa no mundo que se aproximasse de mim, sairia magoado. Fosse por este ou por outro motivo qualquer… E demorou até conseguir aproximar-me de outra pessoa… sempre com muitas reservas e com muitas máscaras… E quando finalmente dei a volta tive de o fazer praticamente sozinha. Eu e a minha psicologa que me ia ouvindo… aluguei uma casa, trabalhei todos os dias para pagar as contas. Foi esse compromisso que me prendeu à vida e me libertou da doença… =) Mas a solidão a que me obriguei foi só o meu método… aconselho sempre a que o façam rodeados, a partilhar jantares e pasteis de nata! A vida faz sentido partilhada… e é à procura dessa partilha que devemos esforçar-nos para sair da doença.

grande beijinho minha querida!