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Feb 25, 2010

>> Ensinar os pais a ... (testemunho recuperação)


Num blogue que sigo encontrei um comentário que não transcrevo integralmente mas apenas de memória. A ideia era de que ao contrário da equipa multidisciplinar de um hospital público português que acompanhava a doente, a família dava-lhe apoio mas não conseguia reconhecer todo o esforço efectuado na recuperação. A família não estava perfeitamente consciente da doença, não compreendia a doença. E acrescentava a ideia de que também os pais não tinham recebido aulas sobre doenças alimentares... Vem esta referência a propósito de testemunho que foi deixado como comentário num blogue norte americano (are you eating with your anorexia?) (aqui) sobre a necessidade de envolvimento, participação e comunicação da família (em minha opinião o que se aplica à família aplica-se também aos amigos ou a quem vive com. Actualmente jovens com anorexia podem ou não viver com os pais ou os pais viverem muito longe).
Reproduzo em tradução livre e na integra pois penso que apesar de cada caso ser um caso terá aspectos comuns com outros.
"Levou muito tempo até que os meus pais o assumissem a minha doença. Questionei-os muitas vezes e pedi-lhes ajuda (estava na Universidade) e eles repondiam: "É uma fase" (Apesar de ter amigos da universidade que diziam aos meus pais que eu não estava a comer o suficiente). Já antes comentei o post: "E quando os pais estão em negação ainda mais do que o próprio doente?" "BUT WHAT ABOUT WHEN PARENTS ARE IN DENIAL EVEN MORE THAN YOU ARE IN DENIAL?!" É o meu caso. Penso que as terapias assentes na família [ em inglês:family-based treatment (FBT)] , só funcinam se os pais já não estiverem em negação em relação à existência da doença[esqueciaana: por exemplo acharem que não é uma doença, que será uma fase e irá passar naturalmente, resolvendo-se por si própria]... mas isto não parece possível se os pais não conhecerem nada sobre doenças do comportamento alimentar.(...) Sei que os meus pais podem ser ensinado. Os meus pais gostam muito de mim. Os meus pais estão confusos e amedrontados e magoados ( as mentiras do doente que rodeiam os transtornos alimentares não ajudam). [...]Os meus pais mostraram-me que querem ser incluidos no tratamento , mas precisam ser ensinados em ralação a como serem incluídos no tratamento. [...] Então qual é a minha ideia? (1) os pais querem ajudar os filhos (2) eles querem ser parte do processo de recuperação e cura mas precisam ser ensinados sobre como fazerem parte do processo [esqueciaana: nos tratamentos de tipo FBT] (3) precisam de aprender sobre as doenças do comportamento alimentar e (4) Querem ser capazes de falar sobre alimentação e doenças associadas com os filhos, mas as famílias também precisam de ser ajudadas nessa comunicação. O doente não está em condições de explicar a situação. Portanto o processo de comunicação também precisa ser apoiado/ensinado/aprendido. E é possível! sei isso por experiência própria. A minha estória é uma exemplo de pais em negação que passaram para pais envolvidos. E francamente, faz tooooooda a diferença. Estive a ser tratada 3 anos e os meus maiores progressos na recuperação foram nos últimos meses a partir do momento que os meus pais se envolveram.
Estou consciente que não é a situação de todos...mas é algo que talvez valha a pena partilhar..."
A., 24 anos, US
Fotografia: Karla Gachet, Equador. Esta fotografia recebeu o 3º prémio na categoria histórias da vida quotidiana (World Press Photo). É uma imagem pouco trivial de uma família mas que me sugere uma família feliz. ( a música? tango) Clique na imagem para ver ampliada.

2 comments:

said...

é sem dúvida um elemento fulcral na recuperação, mas sabes, muitas vezes vão às terapias familiares, entram nas consultas de psiquiatria para ouvir no final, aquilo que o médico tem a dizer sobre a evolução dafilha e sobre ovos comportamentos a adoptar em casa... mas há pais que simplesmente não conseguem...quantas vezes ouvi "eles sempre estiveram em negação, estão ausentes, não vão mudar..." isto depois de ter tentado até à exaustão que não fossem chamados...
Aprendi que a melhor ajuda que me poderiam dar era não interferir...porque apoiar-me doia-lhes muito e não aguentavam.
E a nossa relação só melhorou quando eu melhorei, quando já não era tema, quando já não se falava...
Às vezes é melhor assim...que os pais aprendam até onde podem ir...
Tive medo e senti-me muito sozinha, mas hoje entendo, perdoei.
Que os pais não neguem que a filha está doente, mas que ajudem até onde podem (conversem com os médicos!) e não vão contra eles... Da equipa multi-disciplinar diria que a familia tem um papel, faz parte dela, nem que seja com carinho e com um "eu estou aqui...".
grande beijinho,
obrigada pelo teu esforço!

Dark AM said...

Sim, por vezes os pais entram em negação quanto à doença. É duro demais para eles admitir isso. Pelo menos conscientemente.
Também um grande problema de alguns pais (o caso dos meus) é que não sabem nem compreendem a doença. Simplesmente falam que eu é que escolhi ter a doença, quando esta se apoderou de mim sem eu me aperceber. Aliás, há 10 anos atrás nem eu sabia que existiam doenças desse tipo.

Bom post como sempre

Bjs e bom fim de semana